sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Artificial

Faltou luz na escuridão
A TV se apagou
Só sobrou o som da multidão
Prédios sem luz
Não existia mais velas nesse futuro
E a cidade se rendeu a noite plena
Na janela mais distante uma única cena
Todos encantados com os pequenos flashes
Iluminação que durava um minuto
As tropas condominiais seguiram em frente
Rumo ao prédio da janela solar
O cheiro de fogo exalava de lá
Assim como a fumaça que se inalava
Por baixo se via a luz
Abram a porta gritavam em coro
E a criança assustada abriu e chorou
Trazia na mão um palito de cabeça vermelha
E a caixa de fósforo ficou sobre a mesa

Para você

Sem precisar muito
Bastou olhar teus olhos
Um repleto mundo
Marrons de mel
Seus 31 me faz ainda mais novo
E de novo a flecha se lança em meu peito
Do arco do Querubim mais louco
A lâmina que fere e escreve teu nome
Em mim
A mim coube saber
Porque me escolheu?
Não há mais respostas na amplidão do quarto
Só o silêncio dos nossos olhares
Nos ares, suspiros, respiros, delírios...
A escuridão camuflada
O abajur refolgava teu rosto
Deitada na cama
Repousava a linda e soberana
Ana

Lembranças de um passado recente

Lembro como se fosse hoje
O dia que cheguei de viagem
Subindo as escadas, carregando as malas
Faltando sete degraus, te vi na porta de casa
De tão ansiosa, nem trocou de roupa
Não tomou banho
Nem se quer jantou
Do jeito que chegou do trabalho ficou
Vestida de mulher
A cada degrau que subia me encantava mais
Sua blusa preta
Sua calça jeans
Teus pés sobre a sandália plataforma
Teu cabelo solto
O sorriso e o olhar inexplicável
Estava revendo novamente o teu belo corpo
Perdi a fala
O poder das palavras
Silenciei no abraço que desejei
E você falou tudo com um beijo
Aquilo que eu mais esperei

Ela

E ela preocupada com o meu amor
Que naufragou nas próprias lágrimas
Se embriagou nas noites sós
Silenciou feito madrugada
Que escorreu pelo ralo do teu peito
E se perdeu num mar sem fim
Mas, emergiu
E agora que partiu
Num simples barco de papel
Ela lança suas mensagens
Nas garrafas do acaso
Procurando saber por onde anda
Um amor que não se viu

Vida nossa de cada dia

Cuspiu no chão
Gritou um puta palavrão
Fechou a cara
Jogou a mala
Se livrou do peso
Cortando os cabelos
De pés descalços
Andou no asfalto
Parou o trânsito
Sorriu para o nada
A cidade atormentada
Não andava no seu rush
Com seu blush desbotado
Seu batom tão mal passado
Assustava quem te olhava
Num silêncio belo e mudo
No submundo das calçadas
Um olhar observava
Rindo e inocente
Quando ela de repente
Rasgou toda sua roupa
O mendigo então gritou:
A vida se fez de louca

Procissão

Nos sorrisos da avenida
Nos olhares que te buscavam dentro do bar
Ele com o seu olhar, seguia todos os outros olhos
Que se perdiam quando acabava a dimensão da visão
De dentro e pra fora do bar
No meio da procissão
Um chope
Uma conversa com o amigo
Dois pastéis
Um molho
E um olho sempre catando alguém na rua
Traz a conta
Fique com o troco

Oriebir Lorac

Linda essa menina
Horas tão mulher
De olhares perdidos em suas dúvidas
Com seu corpo feito de praia, de sol e de lua
Teus cabelos que se balançam entre teu rosto
E aquela boca repleta de sede de beber meu viver
Teus sinais de querer se entregar, se confundem com minha vontade
De querer ser os sinais do teu queixo
Para num súbito pulo, tocar os teus lábios
E roubar-te um beijo

Kombi

Tudo que eu queria era viver de verdade
Respirar a liberdade
Fazer versos, poesias
Fazer música e fazer prosa
Num anúncio de jornal achei a pedra preciosa
O rubi com motores
Na estrada de sabores
Com essa Kombi vou partir
Pra te falar, pra tu saber
Como é bom ser criança
Eu vou brincar é de viver

Infinito absurdo

Medir o amor, contar o amor
Avaliar se vale a pena
E descobrir que sempre vale
O amor não perde
O amor só ganha
Um pote de barro
E dois sacos
Um com milho
Outro com feijão
Cada situação da relação será pontuada
Para uma má situação
Acrescente ao pote feijão
Para uma boa, milho
Depois de alguns meses vire o pote
Conte quem dá mais
Milho ou feijão?
Feijão, põe fim na relação
Se for milho, continuem
É tão certo, por mais que reclame
Que tudo está uma merda
Sempre há mais milho em todos os potes do mundo
No momento da situação ruim
O amor fala mais alto
Você acrescentou ao pote apenas 3 feijões
E depois daquela noite de pleno amor
Você acrescentou 3... punhados de milho
O amor não se mede
O amor é um infinito absurdo

O limite de uma paciência

Pleno domingão e lá vem o bom dia:
- Levanta porra! São 9 horas!
- Meu amor, hoje é domingo. Deita aqui e fica um pouco comigo.
- Deitar? Tenho uma pá de coisa pra fazer. Quem vai preparar o almoço?
- Ta bom! Ta bom! Já to de pé. Vamos lá na cozinha que te ajudo meu amor.
Algumas horas depois:
- Caralho! Não tem mais alho pra temperar a carne. Tu não lembrou de comprar?
- Meu bem, eu nem sabia que precisava comprar alho. Mas, não seja por isso. Vou dar um pulo ali no mercado e já volto. Falta mais o quê?
Momentos mais tarde:
- Puta merda!
- O que foi querida?
- Que foi o caralho! Tava fazendo as contas aqui e to vendo que vai faltar grana pra pagar a mensalidade da escola do moleque.
- Relaxa minha linda. Já fiz essas contas e amanhã vou receber uma grana que um amigo ta me devendo e completo. Já ta tudo certo.
- Porra! E porque só agora tu me fala?
- Meu amor, lembra que ontem à noite te chamei pra falar sobre a escola e tu disse que não queria saber de nada? Era isso aí. Preferi não te encher.
Já a noite:
- Puta que pariu...
- Meu amor, de todo coração, mas vou sair!
- Que foi? Nem falei nada.
- Nem precisa. Sua TPM ta foda! Fui!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Flutuou

Pensou que seria fácil dar um pulo
E num salto medroso, caiu
Pensou em desistir, mas, ela viu
Tomou coragem e subiu de novo no muro
Te juro! Ele flutuou!
Sentindo a liberdade, ele sorriu
Quis ir mais alto e ela viu
Estendeu os braços e ela subiu
Subiram, flutuaram...
Nunca mais se viu

A dança

E um fio de voz dança em minha mente
A única voz que ouvi na poluição
Agora sei um pouco mais da tua forma
Falta olhar teus olhos de perto
Para eu te montar por completo
E te assistir dançar
Suave em mim

sábado, 3 de dezembro de 2011

O jardim

Tudo começou em setembro.
Há princípio não entendi bem aquela primeira rosa, presa em minha porta.
Aí vieram mais rosas, diariamente.
Algumas com bilhetes, assinada pelo pseudônimo de admirador secreto.
Achei bobeira. Não dei tanta importância.
Tinha meu mundo lá fora, minhas conquistas e milhares de rapazes que não se escondiam. Que estavam ali sem enigmas.
Até que um dia, chegou uma mensagem dele em meu celular:
“Se existisse outra forma de você me sentir, haveria tantas outras formas de eu dizer.”
Comecei a ficar intrigada com tudo isso. Ele nunca, em nenhum dia se quer, com chuva ou sol, deixou de por a rosa na porta.
Ele nunca esqueceu de mim por nada. Sempre um bilhete com uma declaração de amor, uma poesia sempre tão bela.
Passei então a retornar as mensagens e assim conversávamos.
Tentei ligar, mas, ele não atendia nunca.
Ninguém mais me interessava. Somente ele.
Já não suportava mais aquela curiosidade e vontade de abraçá-lo forte.
Estava apaixonada pelo mais belo estranho que nem conhecia.
Hoje completam seis anos quando recebi um bombom de chocolate dele.
Confesso que me assustei. Já estava acostumada com as rosas.
Ao lado do bombom tinha um bilhete, que ao ler, me deu uma tremedeira do coração à alma:
“Te espero hoje às 21h na praça há duas quadras da tua casa.”
Contava as horas. Torcia para o tempo passar logo.
No horário marcado segui em direção a praça. A rua estava deserta e meu corpo confundia o tremor do frio com o da ansiedade.
Na praça só tinha uma pessoa, só podia ser ele, que ao ouvir meus passos, se virou sorrindo.
Sorri tímida. Logo eu, tão descontraída e atirada, me vi refém desse rapaz e já perto disse um quase mudo:
- Olá! Ele sorriu e respondeu:
- Oi! Que bom que veio. Senta aqui um pouco.
Não queria sentar, queria me jogar nos braços dele, mas, estava hipnotizada e faria tudo que ele pedisse.
Sentei e logo sua mão pegou a minha e puxou em direção a sua boca. Ele beijou minha mão! Estava completamente inerte!
Delicadamente arrumou uma mecha de cabelo que cobria meu rosto e ficou parado me olhando... Até eu quebrar o silêncio:
- Porque você demorou tanto pra se apresentar para mim?
Ele sorriu e respondeu:
- Demorei porque não quero te perder nunca nessa vida. Fiz tantos rodeios pra te seduzir e te ver buscando um sentido para tudo isso. Se eu fosse direto, você me rejeitaria.
Desde então, tenho comigo, as mais belas rosas do mundo.
E hoje pela manhã ele me fez mais uma surpresa. Mostrou-me antes de sair para trabalhar, o belo jardim que fez pra mim.
Agora estou aqui sentada na porta de casa, esperando ele chegar pra falar que o jardim do meu ventre irá florir.