segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Separação



A tua imagem ainda reflete uma luz daquela pouca lembrança
Ainda simula algo que não se sabe, ao longo dessa estrada
Palavras circulam as ruas entre silenciosas cartas de sonhos abortados
Nos meus passos um deserto de incertezas turvas
Sem direção segue a vida, navegando na dúvida de uma lágrima
Noites solitárias de vontades de tudo que não se fez
Calada realidade permite o abandono
Da lua que foi exposta aos dois.

sábado, 18 de agosto de 2012

Traição



Paulo a mais de 11 anos não via seu amigo de infância, por circunstâncias normais da vida. Casamento, filhos e trabalho.
O Daniel havia mudado para Porto Alegre - RS, pelos mesmos motivos e lá residia com sua esposa e seus dois filhos. 
Apesar da distância, Paulo mesmo estando em Belo Horizonte – MG, sempre entrava em contato com seu velho amigo. Amigo só maneira de falar, porque os dois mais pareciam irmãos. Um sempre ajudou o outro em qualquer situação.
Um belo dia o Paulo ficou sabendo que iria fazer uma viagem de negócios para Porto Alegre e resolveu ligar para o amigo. Mas se ele bem soubesse o que iria acontecer, não teria aceitado a proposta do Daniel:
- Alô, Daniel?!
- Fala meu irmão! Tudo certo contigo?
- Tudo ótimo e com você?
- Comigo tudo tranquilo. O que manda?
- É o seguinte. Estou indo amanhã para POA, vou passar quinze dias aí a trabalho. Vamos marcar pra gente por os papos em dias meu amigo.
- Marcar? Você vai ficar aqui em casa! E não aceito um não como desculpa.
- Ah... Não quero atrapalhar vocês.
- Que atrapalhar que nada rapaz! Será um grande prazer em recebê-lo aqui em casa.
- Então tá certo. Amanhã, umas duas da tarde, devo está chegando por aí. Abraço!
- Ok! Estaremos aguardando! Abração!
O Paulo só não imaginava que esse prazer seria de outra pessoa.
14hs33min soa o interfone no apartamento do Daniel:
- Sr. Daniel, é o Sr. Paulo que está aqui na portaria.
- Pode mandar subir!
E assim começa os dias de caos para o Paulo.
Ao entrar no AP do seu velho amigo de infância, Paulo sempre muito observador, já notará um sorriso malicioso em uma das quatro faces ali presente.
Aquela velha confraternização e abraços calorosos entre os dois amigos, que não se viam há um bom tempo.
Paulo fala com as crianças e cumprimenta a Vivian, esposa do Daniel:
- Tudo bem Vivian? Continua muito bonita como sempre.
- Tudo ótimo Paulo! Ah... Obrigada! E você sempre gentil.
Depois de horas de conversas e algumas cervejas entre eles, o Daniel avisa ao Paulo:
- Meu irmão, fique a vontade. A casa é sua. Tenho que me arrumar pra ir trabalhar. Vou dar plantão hoje à noite no hospital, mas amanhã cedo estarei de volta.
- Tranquilo meu amigo. Pena que amanhã pela manhã também terei que pegar no batente. Estou aqui infelizmente por motivos de trabalho, mas teremos tempo para mais confraternizações.
- Uma pena mesmo. E logo essa semana que você vai ficar aqui em casa estarei dando plantão à noite, mas no final de semana a gente desconta!
- É assim que se fala. Vai lá pra não se atrasar. Não quero te atrapalhar.
Daniel então segue para o banho e o terror do Paulo começa:
- Agora que ele foi pro banho, podemos conversar mais a vontade.
Comenta a Vivian para o Paulo. 
Paulo meio que sem entender, sorrir tímido e pergunta:
- Tá tudo bem entre vocês?
- Está sim, só estou um pouco cansada dessa vida de esposa de médico. Sabe como é né, esses plantões noturnos quase sempre e eu aqui sozinha toda noite. Pelo menos durante esses quinze dias terei sua companhia.
- Imagino como deve ser chato mesmo, mas é a profissão do seu marido e você deve ser mais paciente um pouco.
- Isso sou até demais Paulo.
Alguns minutos depois o Daniel já arrumado, se despede dos filhos, da esposa e do amigo e segue em rumo a Santa Casa de Misericórdia.
As horas vão passando e Paulo decide tomar uma ducha pra se preparar para dormir pra descansar a viagem e se preparar para seu primeiro dia de ralação em POA.
Já no banho, Paulo ouve a voz da Vivian na porta do banheiro:
- Tá precisando de alguma coisa aí Paulo?
- Tudo tranquilo Vivian! Obrigado!
- Se precisar, é só chamar. Estarei sempre à disposição.
A disposição? Será que ela disse isso mesmo?
Paulo fica alguns segundos parado debaixo do chuveiro sem entender bem e continua seu banho.
Ao sair do banho em direção ao quarto de hospedes, onde passara suas noites, Paulo se depara com a Vivian forrando a cama, com um “baby doll” vermelho e micro, que exibia seu belo corpo e aquelas coxas grossas. 
Era inevitável não olhar para aquela bela morena clara, cabelos cacheados, agachando-se para forrar a cama, que logo seria desforrada.
Para quebrar aquele clima “sexy”, Paulo fala com muita educação:
- Não precisa forrar Vivian. Não se preocupe, já vou deitar. Estou cansado por conta da viagem e tenho que acordar cedo também.
Vivian olha fixamente para o Paulo e sorri dizendo:
- Ah... Pensei que fosse ficar mais algumas horas comigo.
Paulo sem fazer questão alguma de entender, rebate precisamente:
- Não! Vou dormir mesmo.
- Então, bom descanso Paulo. Boa noite!
Vivian dirigiu-se em direção a ele e deslizou sua mão pelas costas do Paulo e da um leve beijo no rosto de boa noite.
Paulo já sem graça retribui, apenas com um boa noite seco e ela rebateu:
- Qualquer coisa é só me procurar no quarto ao lado. A porta estará aberta. Bons sonhos!
Vivian sai do quarto e Paulo corre imediatamente para a porta e passa a chave.
Paulo passa três horas sem conseguir pregar o olho e decide sair para beber um copo d’água e pegar um cinzeiro para fumar um cigarro no quarto.
O apartamento estava silencioso e escuro.
Ele decide levar logo uma garrafa para o quarto, para evitar algum tipo de “risco”, caso sinta novamente sede, mas para sua surpresa, uma garrafa apenas não iria adiantar.
Ao voltar ao quarto, Paulo se depara com a esposa do seu amigo, deitada na cama com o mesmo baby doll vermelho, mas sem uma peça muito intima, que fora notada logo de cara por ele ao vê-la de pernas abertas.
Num susto, Paulo deixou cinzeiro e garrafa caírem e virou-se rapidamente de costas para ela:
- O que significa isso Vivian?!
- Significa vontade Paulo! Falta! Fogo!
Ele não acreditava no que estava ouvindo:
- Pelo amor de Deus Vivian! Levanta daí e volta para o teu quarto. 
Ela obedece e levanta-se e segue em direção a porta, onde o Paulo estava e aproveitando que ele estava de costas, o abraçou repentinamente e pós uma das mãos em seu órgão sexual.
Paulo bem grosseiro tirou rapidamente sua mão e seu corpo de perto dele:
- Você tá louca!? O que significa isso?! Tá pensando que eu sou o que?! Um filha da puta, é isso?!
- Não estou louca não! Só quero me divertir um pouco Paulo! Deixa de drama! Estamos sós aqui!
Paulo olhou fixamente para ela e a expulsou como se fosse seu dono:
- Saia daqui agora Vivian! Não vou repetir.
Ela sorriu friamente e saiu do quarto dizendo:
- Você não vai resistir por muito tempo Paulo. Não vai mesmo!
Assim que ela cruzou a linha da porta, Paulo fechou e passou a chave mais que depressa.
Não existia mais sede, nem sono e nem mesmo seu maço de cigarros, que foi fumado todo aquela noite.
Paulo levantou cedo e saiu sem que ela percebesse. Nem o Daniel ele esperou chegar.
Diante dos empresários na sala de reuniões onde foi divulgar o mais novo lançamento da sua linha de produtos eletrônicos, Paulo não pensava em outra coisa, a não ser o que fazer:
“Vou voltar lá, pego minhas coisas e vou para algum hotel. Mas o que vou dizer para o Daniel?”
Esse pensamento rondou a mente dele por todo o dia.
Seis da noite, já no táxi em direção ao edifico do seu amigo de infância, Paulo nem conseguia admirar as paisagens de Porto Alegre. 
Passou direto pelo porteiro que nem precisou anunciá-lo pelo interfone, pois o próprio Daniel já havia deixado uma ordem para liberar a subida do seu amigo durante esses quinze dias. 
“Ding dong!” Paulo toca a campainha, rezando para ser seu amigo:
- Chegou cedo! 
Paulo murchou feito uma flor no deserto. Era a Vivian que o receberá na porta:
- Vivian, por favor! Vamos esclarecer logo essa confusão.
- Que confusão Paulo? Não aconteceu nada ou você quer continuar dando em cima de mim?
Paulo ainda na porta de entrada, ficou surpreso ao ouvir isso:
- Quê?! Dar em cima de você! 
De repente surge o Daniel no corredor:
- Logo você Paulo! Meu amigo de infância, me apunhalando pelas costas!
Paulo balançava a cabeça sem entender nada:
- O que esta acontecendo aqui?! Posso saber? O que você disse a ele Vivian?
Vivian empurrou o Paulo para dentro do apartamento e trancou a porta:
- Disse apenas a verdade Paulo. Que você ficou se insinuando enquanto eu tomava banho e depois foi até meu quarto e tirou minha calcinha a força.
Paulo era o susto em carne e osso:
- O quê!? Como pode mentir tão friamente assim?!
Daniel rebateu:
- Mentir não Paulo, ela foi muito sincera e para não prejudicar nosso casamento e preservar a nossa amizade, ela preferiu me contar tudo.
- Preferiu contar mentiras né?! Porque não aconteceu nada disso! Você quer ouvir a verdade Daniel, então ouça! Foi ela que deu em cima de mim!
- Para de tentar reverter à situação Paulo. Eu confio em minha esposa. É melhor você pegar suas coisas e sair para não piorar a situação.
- Vou sair mesmo! Sua mulher é louca e você um cego!
Imediatamente Paulo dirigiu-se ao quarto no qual passará a noite, pegou seus pertences e voltou à sala, tremendo de raiva e ódio:
- To indo embora! E pode ficar tranquilo que não serei eu que irei comer sua esposa mentirosa, isso se outro já não comeu nas suas noites de plantão. Passem bem, bando de loucos!
Antes de bater a porta, Paulo ainda ouviu a última palavra do seu provável, ex-amigo:
- Olha lá como você fala rapaz!
Já dentro de um novo táxi, Paulo liga para o gerente da sua empresa cancelando sua estadia no Rio Grande do Sul e decide voltar para Minas.
Com a cabeça a mil, aguardava seu vôo no Aeroporto Internacional Salgado Filho.
Depois de horas de espera e uma escala, ele desembarca em Belo Horizonte a exatamente 02hs28min da madrugada.
Exausto e estressado, pega mais um táxi em direção a sua casa:
“Não vejo a hora de chegar em casa, tomar um banho e dormir de verdade pra sair desse pesadelo.”
Já em frente a sua casa, Paulo paga a corrida de táxi, pega suas malas e segue em direção a porta de casa já com as chaves na mão.
Já dentro, ele tira os sapatos em silêncio para não acordar seus três filhos e sua esposa.
Deixa as malas na sala e caminha na ponta dos pés em direção ao seu quarto.
Sussurros e gemidos dentro do quarto e ao abrir a porta, da de cara com a Thaís, sua esposa, transando com um desconhecido:
- Que porra é essa!!??
O desconhecido se desencaixa de cima da sua mulher (ou seria mulher do desconhecido) e virasse tentando cobrir com o lençol toda a cena já vista pelo Paulo:
- Calma meu amor! Calma!
Thaís lança as velhas frases sem impacto de mudar nada daquilo que estava acontecendo:
- Calma o caralho! Volto de  uma confusão filha da puta, pra chegar em casa e me deparar com isso?! 
Paulo não conseguia acreditar em nada mais do que estava acontecendo em sua vida. Virasse, bate a porta do quarto com os “amantes” dentro e segue em direção a porta da rua. 
Thaís nua e suada corre atrás do seu amado (se é que existia amor mesmo):
- Volta aqui meu amor! Vamos conversar!
Tarde demais. Paulo já havia trancado a porta da frente e saíra sem rumo pela Av. Olegário Maciel.
Com a mente totalmente confusa, Paulo sente o seu celular vibrar no bolso.
Ao pegar o aparelho, vê que se tratava de uma mensagem enviada pelo seu, talvez ex-amigo Daniel. Ele decide ler a mensagem, mas meio que por instinto, o vício da modernidade.
Ao ler a mensagem Paulo pára no meio da avenida às 03hs47min:
“Desculpe-me meu amigo por tudo isso, mas só assim você conseguiria descobrir que durante anos a Thaís te traía. Fiquei sabendo de tudo há algum tempo pela minha esposa Vivian, mas nunca tive coragem de te contar. 
A Thaís nessas conversas via internet, contava sobre seus encontros amorosos toda vez que você viajava a negócios. 
Preferi tramar todo esse inconveniente com você aqui em casa, para que você saísse daqui com a cabeça quente e não ligasse para a Thaís para poder pegá-la em flagrante.
Sabe que estarei sempre aqui. Pode contar comigo para tudo. Daniel”.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Quero meu silêncio de volta



Quero meu silêncio de volta
Quero abrir a boca da porta
Sem precisar de chaves ou de senhas
Quero o ruído das cigarras e do conversar das formigas

Quero a voz do vento em meu apartamento
O barulho do cheiro das flores
Os sabores soltos no ar
O grito único do mar

Quero apenas um belo silêncio
Para poder te achar
Pelo barulho indecifrável do deu peito
Dizendo que sabe amar