Cegueira

Quanto mais evitava

Ela insistia

Já estávamos separados

Mas ela dizia ainda me amar

E inventava desculpas para me ver

Eu esquivava

Não queria alimentá-la com falsas esperanças

Porque no final das contas

Se eu aceitasse ficar com ela só mais uma noite

Só pra matar sua vontade

Ou a saudade de quando eramos um casal

Seria assinar minha sentença de canalha

Lógico que seria maravilhoso mais uma noite de sexo

Mas, só para mim

Para ela seria o início da imaginação 

Do renascimento do nosso morto amor

Eu terminei 

E não seria justo machucar ainda mais

O coração ainda cego

Que um dia amei.

Pensamento sincero

Se sua mente pensasse pra fora

Tudo que pensa pra dentro

Seria esse mesmo argumento...

Que você exclama dizendo pensar?

Agora nesse momento

Mulher em silêncio

Para onde elas vão nesse momento?

Que direção segue seus pensamentos?

E em qual dos seres que nela habitam, ela reflete?

Calada

Parada

Inerte

Apenas ela e sua bolha existencial 

Talvez até em um outro plano astral

Seu universo particular

Pra onde foge

Se resolve

Cura as feridas

Secam-se as lágrimas

Se transfigura

E se renova

Volta sorrindo e já dando a volta por cima

Resta saber quem permaneceu em seu interior

Depois dessa faxina.

Tarde demais

Quatro anos que ele foi embora

E ainda corrói minha memória as lembranças

Será que foi o que mais amei? 

Mas o amor é um ser mutante e toma novas formas

E os outros que amei? 

Será que não são lembrados porque eu terminei?

E os outros que terminaram também?

Mas eles me acusaram antes de sumirem

Ele não!

Dormiu fora

Apareceu de manhã cedo

Tomou café

Tomou banho

Fez as malas

E saiu sem falar

E hoje, ao lembrar da última vez que o vi

Vejo uma mulher deitada no sofá

Vendo o homem que ela amava

Sair pela porta sem se despedir

E ela sofrendo calada

Revendo seu próprio silêncio 

Contribuir.

Eterno

Não posso demorar! 

Tenho que ser rápido

Quero ser breve

Tenho que ser ágil

Tenho que ser leve nesse momento

Pra invadir seu coração e ficar entre

O sentimento e a razão...

Serei pra sempre.

O pouco que sobrou

Fui passear pelo passado

E encontrei fantasias de infância

Abandonadas nas ruas

Sozinhas, sujas, chorando

Imensidões de imaginações deixadas de canto

As pessoas crescem e esquecem todas as ilusões

E vivemos presos num presente duro e rígido

Onde a única fonte de pureza que sobreviveu

Foi o sorriso...

Que carregamos desde criança.

Evolução na vivência

Parece sonho, ilusão, mas é a realidade

É olhar de cima e ver o quanto nos falta pro topo

E olhar pra baixo e perceber que não me encaixo em meu corpo

Meu espírito sempre exclama e expande

Minha alma pondera, traz calma

Mas, enquanto habito nessa matéria

Me espalho em cidades, músicas, encantos, amores.