domingo, 11 de setembro de 2011

Pedaços de amor

Passo o futuro em tuas mãos
Provando o gosto único
Lendo teu corpo
Ouvindo sua voz
Cansando meus olhos de te ver
Contemplando cada sorriso seu
Me alimentando do teu toque
Sobrevivendo por você
O difícil é você conseguir entender
Essa razão absurda do meu ser
O plural de me dividir pra você
Pois, só assim, nesse amor brutal
São as partículas de mim
Que conseguem impregnar no teu ser

Vivo

Aqueles desenhos seus feito de nuvens, o que queriam dizer?
Diziam nada. Mostravam apenas a nossa cegueira absurda
Mas, porque tanto tempo perdido assim?
Deixamos de ver outras coisas a cada minuto que sentimos necessidades de coisas fúteis
Tento agora além de escrever, desenhar com água suja
É bem pratico tudo que não entendemos.
Pratico? Não consigo entender nada
E porque você chora?
Porque se obriga a tentar olhar meus rabiscos loucos?
São apenas devaneios meu bem
Devaneios que me mantém solto
E porque você busca sua liberdade?
Porque sei que estou vivo

Samba e feijão

Um samba de quintal feito para todos não entenderem aquela comemoração
A barriga gritando de fome e nós ali ao redor da panela
A pressão da espera, o feijão, a razão da nossa existência fugaz
A cachaça barata descendo quente na garganta dos risos sem dentes
Alegria fabricada pelo motivo mais covarde de fuga
Crianças descalças no meio da roda
Mulheres se oferecendo feito tira-gosto
Homens delicados e lentos pelo efeito
O cheiro toma conta do bairro
O samba aumenta cada vez mais
Os pratos vão surgindo, junto com os gritos da gandaia
O mês suado vai indo embora em poucos minutos
A noite vai se despindo, virando madrugada
O frio chega anunciando a segunda-feira
Hora de limpar toda sujeira, por ordem naquela bagunça
Crianças, mulheres e homens se olham, sem nem saber o seu samba
A festa humilde berrante que clamava por dignidade, não foi bem vista
O samba da inclusão, foi visto como sempre
Bando de pobres

Mais fácil

Lágrimas nos olhos
A desistência de tentar ver bem mais longe de tudo
No alto da montanha
É um ato de coragem nos notarmos e percebermos como somos tão pequenos
Apenas seres que trabalham sem bem saber o porque
Com as vistas cansadas nunca nos encontramos
Se fechar os olhos desse pra ver a gente por dentro, talvez entendêssemos que somos belas peças do mais simples jogo. Mas, é bem mais fácil derramar lágrimas e esperar que alguém nos socorra.

Outra vez

Caminhando livre pelo entender que você é apenas meu músculo
Asas que partiram no meu primeiro salto
Jogado no campo do mundo escuro da solidão, me vejo vela
Uma luz perdida ali, chorando sem saber bem o porque
A cada passo me assusto com as coisas que ilumino
Que mundo estranho é esse novo que vivo
Sem palavras, sem sons. Madrugada lembra isso
Vou construindo uma imensa floresta artificial
É o único artifício que tenho agora
Pois se você estiver apagada, será mais fácil de me ver
Quero te acender! Veja essas chamas quase falsas que produzi
Me busque asas. Me procure.
Quero saltar novamente.
Talvez meu vício seja apenas pra sentir a velocidade da queda outra vez

Indispensável

É indispensável aquele teu cheiro sempre doce
Indispensável assim como uma manhã silenciosa
Nuvens conversando com o ar
Flores dançando com o vento
É indispensável teu sorriso solto
Indispensável assim como meu viver
De noites longas te procurando em sonhos
Sonhos que não vem me visitar
Onde você dorme agora?
Qual a sua freqüência?
Preciso saber o teu mapa, te achar pela tarde vazia
É indispensável para mim saber que ainda respiras
Aquele indispensável sentimento que foi de nós dois

domingo, 24 de julho de 2011

Aquarela

Desde cedo a tatuagem pinta a sala e na parede um quadro de você
Em outros tempos rostos camuflados eram símbolos de luta e prazer
Beijos astrais, já não são fatais
Tanto querer, já não importa mais
Rasga a seda e a bandeira que se queima é a margem da nossa nação
Choro ensangüentado nas esquinas são simplesmente formas de oração
Corpos que caem, só querem morrer
Quem estende a mão? Pra quê?

Aquarela brasileira tem som de beira de asfalto
Um farrapo, maltrapilho, suas vestes são sujas de mim
Anjos que sussurram susto, abrem asas para o pior temporal
O mundo se ajoelha para humanos desumanos em potencial
A morte beija a boca da mais bela, todos aceitam o fim
Pra ir tão longe nesse campo de cegos é preciso ferir
Com espadas, com lanças, com raiva e com a solidão

De nós, esse sonho que se perdeu
Vendeu por tão pouco, trocou por pedra até mesmo Deus
Jesus se escondeu em sua cama
Com medo da lama que o homem criou

Flores na janela cheiram o pó
O pôr do sol já não é seu
O filho que sonhou agora veio cuspir em você
Esquecer que eu existo, são as tintas pra pintar esse céu que insiste em ser azul
Pra quê? Pra quê?