segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O reencontro humilhante


Júlio estava sozinho em um bar no centro da cidade, tinha acabado seu expediente e resolveu tomar uma cerveja gelada pra distrair a mente antes de ir para casa, quando de repente a Alice, sua ex-namorada, surge próxima ao balcão:
- Júlio?!
Surpresa e sorridente ela não acredita nesse reencontro após longos quatro anos de separação. Júlio sorri e a cumprimenta:
- Olá Alice! Quanto tempo. Continua muito linda.
Depois do abraço e os beijos no rosto, ela senta-se perto dele e conversam sobre os dias de hoje e suas vidas.
Após algumas cervejas a mais Alice teve a péssima idéia de remexer no passado que estava morto e enterrado:
- Até hoje não me conformo Júlio e não entendo porque você terminou comigo assim sem um real motivo.
Ele adverte:
- Por favor, Alice, não vamos tocar nesse assunto. Isso é passado, já foi. Vivemos pra frente, não pra trás.
Ela insiste:
- Passado pra você ou será que não tem um motivo que possa me esclarecer?
Então Júlio ao perceber que o defunto ainda insistia em se mexer, resolveu de uma vez, por um fim em toda essa história de um amor que já acabou:
- Ta bom Alice. Já que você faz questão de ouvir, vou falar tudo pra você.
E assim Júlio deu início a uma humilhação que ela mesma exigiu:
- Tínhamos que terminar o nosso namoro naquele dia que você mais uma vez, teve uma crise de desconfiança e insistiu pela quinquagésima vez a senha do meu e-mail. E eu sem paciência fui um tolo e te dei. Um gesto de amor e confiança meio infantil da minha parte, mas depois disso, você enlouqueceu. Passou a ler e-mails antigos que mandei para mulheres do passado que aumentou ainda mais a sua fogueira de desconfiança, criando brasas de ódio. A partir dali Alice, não tínhamos mais chance nenhuma de continuarmos juntos.
Alice tentou justificar e culpá-lo mesmo assim:
- O que tem a ver isso Júlio? Quem não deve não teme. E o que li ali era mais que simples mensagens para ex-putas que você ficava.
Antes de deixá-la estender a conversa para o lado dela, Júlio cortou e puxou a cega para uma realidade que ela nunca conseguiu enxergar pelo visto:
- Alice, pára de falar bobagem e ouça-me com atenção!
O amor suporta muita coisa, mas não a desconfiança doentia.
Você me vigiava a cada segundo, entre ligações e mensagens. Isso sufoca, cansa!
Eu não tinha tempo nem para conversar com um amigo.
Não tinha tempo pra mim em nada. Era só você todo o tempo.
Alice estava inerte e calada perante todas as palavras que Júlio lançava de forma rígida e tranquilizante:
- Me arrependo até hoje Alice de todas as vezes que tentei te fazer enxergar que era apenas você que me interessava naquele tempo. Que as outras eram realmente um passado que não me interessava mais.
Tentei te acalmar inúmeras vezes quando você tinha sua crise de ciúmes extrema e desconfiança. E a cada saliva que gastei tentando provar pra você que te amava, era eu o mais agredido. Era eu e somente eu, o inocente que pagou sozinho o preso do amor perdido pela sua pobre estupidez Alice.
Você me perdeu Alice, pela sua cegueira e visão distorcida do que é amar. E hoje, você faz parte da lista dos e-mails que não me interessam mais.
Alice silenciou por fora e por dentro. Com o corpo trêmulo, deixou escorrer uma gota de lágrima dos olhos que desenhou em seu rosto a palavra “perdão”.
Júlio secou a lágrima, deu um beijo em sua testa, puxou a carteira do bolso e colocou algumas cédulas na mão dela:
- Se cuida Alice e pague a minha conta. Odeio ver lágrimas de um arrependimento tardio. 


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