segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O blefe


Uma discussão tola numa mesa onde desconhecidos jogavam pôquer apostado, proporcionou ao Gustavo uma das noites mais alucinantes da sua vida.
Com a cabeça já cheia de álcool, Antônio usou um blefe tão notável quanto saber que um mais um são dois. Gustavo não resistiu e sorriu chamando o Antônio de otário, que de imediato levantou-se virando a mesa, sacando uma pistola calibre 22 da cintura e disparou dois tiros para o alto.
O cassino clandestino entrou em pânico. Eram putas, prostitutas, casados e ricos esmagando-se em direção a saída mais próxima e nesse meio estava o Gustavo, que era o motivo bobo da confusão.
Antônio o perseguia com toda a fúria nos olhos cambaleantes pela bebida. Um senhor de 41 anos de idade, calça escura, casaco xadrez marrom e aquele bigode preto em sua face branca.
Gustavo jamais esquecerá aquele rosto, pois esse foi o rosto da morte naquele dia para ele. Foi esse rosto que o perseguiu por várias quadras, naquela quinta-feira, escura e chuvosa.
Antônio era incansável. Estava possuído pelo desejo de retirar a ofensa com uma bala, até que Gustavo se viu sem caminhos para fugir da morte. Só existiam agora duas opções para ele: morrer ali quieto ou usar a sua sorte de jogador.
Preso numa rua sem saídas Gustavo respirava ofegante e completamente molhado da chuva forte que caía. Fechou os olhos e olhou para o céu negro. Sentiu as gotas fuzilando sua face, abriu os olhos e observou uma delas que explodiu em sua testa lhe trazendo uma idéia.
Antônio se aproximava lentamente sorrindo cada vez mais macabro e totalmente pesado com o peso da água da chuva que molhara seu casaco xadrez marrom.
Já bem próximo de quem o ofendeu, Antônio apontou a pistola na direção do peito, quando o Gustavo alertou colocando uma das mãos por baixo da camisa vermelha e molhada:
- Só não te dei um tiro antes, porque a chuva molhou a minha arma e o tiro sairia pela culatra me alvejando.
Depois de ouvir as palavras do Gustavo, o Antônio parou com a arma em punho pensando:
“Puxo o gatilho ou não? Minha arma também esta molhada. Atiro ou não?”
Nesse intervalo de segundos entre a dúvida e a fúria, Gustavo usou a ação e deu um simples golpe na garganta do Antônio usando a lateral da mão.
Desesperado pela falta de ar, o senhor de 41 anos de idade, deixou cair à arma e sentou-se feito um engasgado no chão molhado.
Gustavo pegou a arma e falou olhando nos olhos bêbados do Antônio:
- A raiva e a ansiedade se não controlada é a brecha que precisamos para usarmos o blefe em todos os jogos, até mesmo o da vida.
E seguiu seu rumo, vivo e molhado.


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