segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O detetive e o amante


Achando que ninguém ligaria, Mateus saltou do sofá surpreso ao ouvir o celular tocando sobre a estante do computador. Não tinha nem se quer dez minutos que o site feito por ele estava no ar e já conseguia o seu primeiro cliente.
Mateus tinha 32 anos, era formado em informática e sempre foi muito inquieto, atento, antenado e esperto. Ele estava desempregado a três meses, gozando os dias torrando seu seguro desemprego.
Nesse tempo com tempo livre, ele analisou tudo que acontecia com a sociedade e com o mundo em si.
Observou como a tecnologia avançava sem chances de alcance e percebeu o grande lance da sua vida nas redes sociais. Todos os seres estão conectados nessas grandes redes massivas de gente virtual, que tem realmente uma vida real.
Era fácil saber onde as pessoas estavam fisicamente, pois elas mesmas postavam fotos que chegavam às redes com a mesma velocidade que foi tirada.
Pessoas divulgavam com antecedência para onde iam e com quem iriam.
Mateus percebeu que estava diante do seu império, da sua fábrica de dinheiro fácil, mas tinha que saber definir bem detalhadamente em que ramo atuar usando essa ferramenta tecnológica. Percebeu que em suas rodas de amigos, colegas e conhecidos, o papo sempre girava em torno de namoro, ficadas e traições. Era o assunto clichê em toda a parte e foi aí que ele começou a se divertir e muito.
Mateus passou quinze dias pesquisando sobre o trabalho dos detetives particulares, sobre a forma deles agirem, os materiais utilizados e sobre os casos mais comuns da traição. Com todas as informações adquiridas, ele juntou e preparou seu próprio acervo mesclando com uma pitada de risco e ousadia.
Ele tinha nas mãos tudo o que precisava, só gastou grana comprando um chip para usar um número desconhecido e enchendo o tanque de gasolina do seu carro.
Com menos de dez minutos do seu site de detetive particular rolando na web, ele já estava atendendo seu primeiro cliente.
Por telefone mesmo Mateus estabeleceu os valores e colheu todos os dados necessários para vigiar a vida da Vanessa, esposa suspeita do David, que por e-mail enviou suas fotos ao novo detetive, que se encantou com a beleza daquela morena de olhos verdes.
Sem perder tempo, Mateus a adicionou na sua lista de amigos da rede e dali mesmo começou, entre conversas virtuais a preparar o terreno para o trabalho.
Com apenas quatro dias perseguindo a Vanessa, Mateus finalizou os trabalhos e recebeu a quantia de R$ 1.200,00 em sua nova conta bancária, enviando para o e-mail do David o vídeo da transa da sua mulher com o tal amante.
Sua agilidade para solucionar os casos, fez com que seu trabalho fosse massivamente procurado.
Mateus fechava o mês com cerca de R$ 18.000,00 no banco. Eram cerca de quinze relacionamentos desfeitos por mês. Ele nem acreditava quando ia tirar seu saldo. Nem acreditava que passou anos estudando e tinha em suas mãos uma profissão muito prazerosa e lucrativa.
Assim sua vida seguia, entre chifres, grana e gemidos, Mateus sobreviveu por um ano e seis meses, até o dia da ligação do Alberto.
Seguindo o mesmo padrão desde o primeiro caso, Mateus fechou negócio de cara com o seu último cliente ao ver as fotos da sua bela esposa. Morena clara, cabelos com mechas loiras, uma boca de tirar o fôlego e um corpo escultural. Essa era a Márcia, a perfeição em forma de mulher.
Como de praxe, o respeitado detetive começou sua vigília pela internet, adicionou a suspeita e começou a puxar papo:
- Oi! Obrigado por aceitar minha solicitação.
Márcia respondeu logo em seguida:
- Por nada querido. Seja bem vindo!
E a conversa seguiu por alguns minutos com a velha lista de perguntas: idade, profissão, papos bestas, até se despedirem.
Antes de dormir Mateus entrou e foi verificar se a Márcia havia deixado alguma brecha para que ele pudesse se aproximar pessoalmente dela e como sempre ele achou a deixa.
Márcia havia postado em um dos comentários das suas amigas que estaria logo pela manhã no Ultrabar & Cia sozinha.
Pela manhã o Mateus já estava lá, tomando um chopp de leve esperando a suspeita chegar. Após alguns minutos de espera ela chega, iluminada pela própria beleza.
Com um vestido preto e curto, Márcia exibia o porquê das suspeitas do seu marido. A mulher tinha um belo par de pernas e uma bunda que não se define em palavras. Sentou-se duas mesas de distância dele e pediu uma “roska” de morango.
Era excitante ver aqueles lábios sugando o drinque pelo canudo, mas Mateus lembrou que estava ali a trabalho e teve que parar com o voyeurismo e ir na direção dela:
- Desculpa incomodá-la, mas você não é a Márcia?
Mateus sempre usava o velho papo de João sem braço e sempre dava certo.
Meio surpresa com a abordagem, ela afirmou:
- Sou eu sim! Quem é você?
Já era Márcia. Caiu na rede é sereia. Então Mateus se apresentou:
- Sou o Fábio. Conversamos ontem pela internet lembra?
Mais surpresa ainda ela ficou:
- Hum! Lembro sim. Que coincidência nos encontrarmos aqui.
Mateus era um robô e já sabia tudo o que tinha que fazer:
- Ta sozinha? Posso sentar aqui e terminar meu chopp conversando um pouco com você?
Educadamente ela disse:
- Lógico! Senta aí, por favor!
Tudo nos conformes. Agora era só deixar a sabedoria tomar conta e deixar o álcool correr nas veias da Márcia.
Chopp termina e mais “roskas” vem e a perfeição na forma feminina começa a ficar facinha facinha.
Mateus que ali era o Fábio começa com papos mais ardentes para levar a bela ao caminho que ele deseja. Márcia se esforça para tentar sair do assunto, mas devido aos copos vazios sobre a mesa, já dava pra perceber que ela estava molinha molinha e foi questão de minutos para o sábio detetive pedir a conta e sair do Ultrabar & Cia na companhia daquela nave.
Mateus antes mesmo de entrar no carro, já estava sugando a língua da Márcia ali mesmo na rua. Ela já era dele e queria mais que beijos e simples amassos sobre as roupas. Ela pedia por pele, corpo, suor e calor.
Márcia era um vulcão em erupção de prazer e vontade. Mateus sem esperar mais arrastou o carro em direção a casa já programada. Chegando lá, Mateus só precisou fazer uma ligação para acionar a câmera que já estava posicionada próxima à janela do quarto para fazer a gravação do vídeo que incriminaria a chapada e bela Márcia, que já estava tirando o vestido preto e se jogando na cama.
Trabalho finalizado, mais uma suspeita incriminada e satisfeita pelo serviço.
No outro dia Mateus envia a transa dele com a mulher do seu cliente, que chora por ter sido traído, mas deposita os mil e duzentos conforme o combinado.
Como sempre após alguns dias depois da separação todas as suspeitas procuravam o Mateus para mais uma transa de consolo e não foi diferente com a Márcia. Só que o nosso esperto detetive esqueceu de acompanhar a evolução do mundo e não fez pesquisas sobre o assunto traição e foi justamente aí que ele perdeu, pois tem corno pra tudo e o Alberto era um daqueles que gostava de mostrar que era mesmo um e exibia o vídeo da transa da sua ex-mulher com o tal amante com seus amigos.
Numa dessas sessões de exibição, outro corno que via ao vídeo gritou:
- Foi esse mesmo filha da puta que comeu minha mulher!
Foi uma questão de tempo para todos os traídos perceberem que eles pagaram ao detetive para comer suas mulheres. E num certo dia enquanto outra suspeita gemia alto, Mateus era alvejado por um tiro certeiro de doze na lateral do pescoço e morreu em pleno horário de serviço, gozando no ato. 


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