quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dejavu Vermelho



Foi exatamente no dia 15 de fevereiro.
Show da banda O Rappa, lá estava eu solteiro e descomprometido com a tal obrigação
masculina de ir pra festa e ter que pegar mulher...
Foi assim que Pedro começou a narrar sua noite inesquecível:
"Estava eu, a Dany, o Fabio e o Ronaldo.
Eu cheguei primeiro que eles e fiquei por algum tempo perto da bilheteria.
Comprei uma cerveja e me encostei no muro próximo a entrada. E lá fiquei observando quem entrava
fumando um cigarro.
Tinha até um senhor que morava no mesmo bairro que eu. Tava vestido como motoqueiro.
Nunca tinha visto ele assim. Ele me reconheceu e acenou fazendo o sinal de positivo.
Sorri meio de lado e olhei o celular, pois tinha vibrado. Era uma mensagem da galera perguntando onde eu estava.
Respondi rapidamente como quem escreve a punho e logo me acharam.
Na real, a minha pressa toda era pra entrar logo pra comprar várias fichas no bar pra não ter que
toda vez pegar duas filas, pra ficha e para birita.
Já dentro da casa de show, nosso primeiro trajeto foi esse e logo em seguida já tomando uma loira gelada, foi a hora de saber onde ficava o banheiro. Lógico, festa, cerveja e banheiro, não podem se separar nunca.
Todos os cantos conhecidos, era hora de preparação para a banda.
Meu primeiro show da turnê "7 vezes", estava ansioso para ver os caras ao vivo fazendo aquele som.
De repente a multidão fica eufórica! As luzes se apagam e o apresentador começa a anunciar a banda.
Era dada a largada da contagem regressiva...
Cinco...
Quatro...
Três...
Dois...
Um...
O Rappaaaaa!!!
Começa uma vibe nebulosa inexplicável! Todo mundo enlouquecido.
Meus amigos ao redor, desapareciam a cada pulo que dava.
Foram sete músicas seguidas, sem pausa, sem "boa noite rapaziada!"
Os caras estavam com sede de show.
Não tinha tempo de comprar cerveja, as fichas estavam empoeiradas no bolso.
Não importava! Queria curtir o show. Esse sempre foi o propósito da noite.
Tirei a camisa e fui pra frente do palco. Enfrentei um pelotão iluminados pelo som e consegui chegar próximo a grade de proteção.
Passei uns cinco minutos e não suportei ficar, estava muito apertado, nem conseguia me mexer direito.
A volta foi difícil, entre "licença!" e empurrões, cheguei num ponto que dava pra ver a banda completa e tinha espaço para libertar minha alma.
Dançava solitário ao som da vibe hipnótica do O Rappa.
Ao abrir os olhos estava dentro de uma roda de luz, cercado de mulheres.
Todas hipnotizadas, dançavam no mesmo compasso de tempo que o meu.
Entre as belas, uma despertou minha atenção.
Morena clara, 1,68m, cabelos liso com um tom avermelhado escuro
Olhos negros, vivos e intensos, e um conjunto de boca sem igual.
Sorriso, lábios cheios cor de romã.
Desfilava feito bailarina, com sua blusa vermelha com um imaginário decote nas costas e uma calça jeans preta que mostrava bem suas sinuosas curvas.
Era uma perfeição de mulher!
No momento mais atraente do show, a Dany me desperta do sonho:
"Ei! Tá fazendo o que aí sozinho? A banda deu uma esfriada, hora de comprar as cervejas."
A bela morena me olhou meio decepcionada quando viu minha amiga me levando pelo braço.
"Que droga! Ela pensou que a Dany era minha namorada."
Pensei e logo esqueci. Não ia me estressar com isso. Aliás, estava ali para curtir o show.
Já ao lado dos amigos, o Ronaldo fala:
"Pedro, você fez a gente esperar aqui por vinte minutos sem breja, então você mesmo vai enfrentar
a fila e pegar a cerveja de todo mundo!"
Nada mais justo, e para mim não era problema algum. Seria a hora certa, só não sabia que iria estressar o Ronaldo ainda mais.
O Fabio quis ir também, então seguimos conversando sobre como estava o show.
Antes de comprar as "loiras", passamos no "maldito banheiro". Uma fila imensa cheia de barbado, tudo em posição de barreira de jogo de futebol.
E lá vamos nós parados por dez minutos na fila pra mijar.
Quando consigo sair o Fabio já tava nervoso:
"Vamo logo Pedro! O Ronaldo já deve ta puto!"
Respondi:
"Calma Fabio. Não temos culpa de nada agora. A culpa foi da fila!"
Era como um "dejavu", eu sabia que iria repetir essa frase logo mais.
Continuamos até a fila da cerveja e aí aconteceu a colisão!
Esbarrei com ela novamente, mas ela só deu um:
"Foi mal! Desculpa!"
E foi passando lentamente por mim entre a multidão que seguia em direção ao balcão.
Numa reação inesperada, segurei a blusa dela bem no vão do decote.
Ela freiou bruscamente, sua blusa levantou, pude ver sua cintura e aquela tatuagem de fadinha que
adora ficar exposta ao sol.
Ela virou-se como um furacão pra me arremessar longe, quando percebeu que era eu...
Sorriu tão lindamente como o céu amanhecendo e no mesmo momento em que o Fabio exclamava:
"Vamo logo!!!"
Ela me tascava um beijo daqueles de acabar com eventos.
Era como um salto num abismo invísivel.
Nossas línguas num confronto interno e nossos corpos trêmulos num abraço meio que empurra e puxa.
Não sei quanto tempo durou essa transfusão de desejo, mas me pareceu que o mundo havia parado naquele momento.
Voltei em si, quando notei o Fabio enfiando uma das mãos em meu bolso e com a outra tentava desconectar a dama de vermelho de mim:
"Me dá logo as fichas porra! Solta ela!"
Solta ela...
Era impossível.
Aquela boca
Aquele cheiro
Aquela pele
Aquele adeus:
"Tchau lindo! Bom show pra você!"
Assim ela desapareceu no meio da multidão.
Sem saber o que estava acontecendo direito, recebo um tapão nas costas e ouço uma voz:
"Tá fazendo o que?"
Confesso que gelei, mas ao ouvir a frase, percebi que era o Ronaldo e bem puto:
"Qual foi Ronaldo?! Tapão da porra!"
De repente aparece outro puto cheio de cerveja nas mãos:
"Aí as brejas!"
Tive uma crise de risos ao ouvir o Fabio contando tudo que não vi, pois nem estava ali:
- Qual foi o motivo da demora agora? Perguntou o Ronaldo.
Fabio logo em seguida respondeu:
- A culpa foi do Pedro! Deu em cima de uma mina e ficou horas se pegando bem ali no meio da fila.
O povo todo gritando pra eles saírem dali e irem para um motel, e eles lá, achando que estavam no sofá de casa.
Sem conseguir falar direito, por conta do riso, tentei me explicar:
- Não foi nada disso Ronaldo! A mina passou e eu apenas mexi com ela, pois ela já tinha me visto antes.
Ela avançou em mim. Me abusou em pleno show!
A culpa não foi minha, foi dela!
Eu sabia que ia repetir essa frase. Assim como nesse mesmo instante, tive a certeza que
nunca mais iria para um show junto com a galera, pois todos estavam furiosos... e a morena, foi como uma frase repetida...
Foi muito bom o show.

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