quarta-feira, 18 de julho de 2012

Machucados


Uma carta descomprometida, estava sobre o tapete da porta do meu apartamento
Era um apartamento confortável, para mim era na minha época de solteiro
Dois quartos, sala, dois banheiros, sendo um na área de serviço e uma cozinha até espaçosa
Ahh..! Quantas noites de farras... Mulheres, bebidas e sempre eu só, sem dever nada a ninguém
Aproveitando os momentos livres da vida... mas apareceu a tal carta!
Um envolepe branco, sem carimbos, nem selos do correio
Peguei lentamente o ser branco que repousava, quase sorridente no meu tapete escrito: "Limpe os pés"
No verso, escrito de cor azul suave, dançavam em delicada forma, o traçado da frase que dizia:
"PARA VOCÊ!"
Quem poderia ser?
Pensando, entrei em casa observando fixamente aquelas letras, tentando decifrar alguém pela caligrafia
Tirei os sapatos na sala mesmo, fui na cozinha pegar um copo d'água, voltei e sentei no sofá
Sem demora abri a tal carta misteriosa...
Num pedaço de papel de algum tipo de agenda "TEEN", escorria cachoeiras de letras que cantarolavam:
"Me veja!
   Me sinta!
       Deseja...
          O mesmo que eu
          Não te quero só por apreço
          Indefinivel e sem preço esse amor
          Abra os olhos e perceba a vida ao seu redor!"
Quem poderia ser?
Pensando, passei horas no sofá.
Não comi, não tomei banho e nem fui "mijar"
Meu copo gritava: "Me beba!"
Levantei um pouco pra me movimentar
Pensar em pé, talvez seja melhor
E assim começou minha tortura por vinte e um dias
Passei a observar todas as mulheres solteiras do meu prédio de doze andares
Vi mulheres lindas que nunca tinha visto
Esperava alguma esboçar um sorriso, um gesto... uma dica
Um cão guia, um mapa, um convite, um "Olá!"
Nada aconteceu... talvez ela tenha se arrependido do que escreveu
No dia 30 de novembro, um belo domingo de sol
Estava eu no churrasco da festa da posse do novo síndico
Farra grátis, não perdia! Só não sabia que essa seria a última
Todas as solteiras se exibiam em micro-biquinis na área ao redor da piscina
Aquele cheiro de carne assada na brasa e aqueles belos corpos dourados confundiam meus pensamentos
Esquecia o meu segredo branco sem remetente
Queria sentir o sal da pele, lábios vermelhos e carnudos, prontos para beijos e mordidas com sabor
Voltei a ser só, livre e me soltei na festa 
Bebi, comi, tomei banho na piscina e lógico, conheci todas as "assadas do sol"
Preparei o terreno e decidi investir em apenas uma
E que bela "uma"
Solteira, morena clara, cabelos liso e cheios.
Seios fartos e um shortinho jeans molhado pelo bininho vermelho
E aquela voz de nuvem delicada, fez o cupido tocar a harpa e cantou seu nome:
Fernanda Mascaro, uma linda empresária de olhos castanhos escuro e lábios cor de pitanga
Conversei a tarde toda com a "Nanda" (já estava nessa intimidade), até que o sol baixou e todos começaram a se despedir da festinha 0800
Senti ela muito receptiva a tudo, então achei o momento oportuno para convidá-la ao meu Ap:
"Não quer ir até minha casa? Podemos conversar mais e tomar um vinho que tenho pra fecharmos com chave de ouro esse belo domingão!
O que acha?"
A Fernanda me olhou de cima a baixo e sorriu dizendo calma:
"Acho que já tá na hora mesmo de uma conversinha mais reservada."
Fiquei espantado!
Aquela escultura viva tão delicada, era quente como ácido sulfúrico queimando a pele
"Seria ela então a tal mulher da carta?"
Me perguntava enquanto respondia tudo, sem ouvir nada do que a Fernanda falava
Já no Ap, não existia mais palavras, apenas suspiros e estalos de lábios e línguas perdidas ali na sala mesmo, no velho sofá de guerra de beijos
Depois de tudo feito, barba, unhas, pés e cabelo, adormecemos abraçados, mudando de cor de acordo com o programação da TV
4:22hs da manhã, acordo com a Fernanda me perguntando:
"Quem deu essa carta pra você? Qual das suas visitantes constante escreveu?"
Não era ela...
Desde o dia que recebi a carta, não tirei mais de cima da mesa da sala, esperando que a mulher que entrasse fosse a autora dos desconhecidos versos
Confesso que me decepcionei um pouco, mas a "máquina" Fernanda, já tinha me dividido
Deixei a vida de rei das farras e casei com "os lábios cor de pitanga"
O foda foi ter dito pra ela que a carta foi de uma paixão da infância
Que eu nem se quer consegui enxergar...
As duas nem sabe que todo dia penso na mulher da tal agenda "TEEN"
Quem mais se machuca, elas ou eu?

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