Tempo

Apenas ele permanece

Ele conhece os dias

Sabe a história

É um visionário

Um profeta

Um sábio

Com ele aprendi o valor da espera

A sempre pensar antes do ato

Pois, desde que nascemos

Tudo é para sempre

E dependemos apenas dele

Para descobrimos nossa felicidade

Pois, ele é único

Apenas aquele momento

E toda a eternidade.

Inadimplência II

E novamente chovia SMS com a mesma frase: 

“Preciso de você!”

Todo o resto já era decifrável e previsível

Era apenas o uso do meu corpo

Entre salivas com o gosto de vinho

No mesmo colchão onde o suor já foi sugado

Seria ela culpada ou seu marido

Que continuava na inadimplência

Quebrando o juramento da troca de alianças

No descumprimento de amá-la 

Privilegiando o trabalho

Esquecendo até de uma rápida transa

E como ela me disse:

“É assim que o homem dança”

E lá estávamos nós

Na velha casa de herança

Entre gozos, brasas e risos

Sem travesseiro

Cobertos e nus

Pelo mesmo edredom vermelho.

O viver

Aprendi a sentir a vida

Quando desapareci completamente

Quando esqueci de mim, de todos, do mundo

Quando o amor me acolheu nos meus momentos sós 

Quando a solidão e a tristeza percorreram meus pensamentos como paisagens de uma viagem

Quando gatos e cachorros me entendiam e deitavam ao meu lado como afago

Quando as lágrimas eram invisíveis aos olhos

Quando um simples sorriso era alimento

Quando a música transformou-se em alegria

Quando a dor era precisa 

Quando a proteção se fez auxílio

Quando as circunstâncias me trouxeram serenidade

Quando a perda virou verdades

Quando os obstáculos me preenchiam de capacidade

Quando as palavras rudes me tornaram humilde

Quando o agradecer tornou-se luz

Aprendi 

Quando percebi

Que sentir

É que faz o viver.

Futuro

O futuro é sempre em frente

Por mais que andemos, ele continua lá distante

Com sua velocidade de flores que desabrocham imperceptíveis

 As mãos podem tocar sentir cheirar e até mesmo tê-lo 

Mas jamais perceberão a presença do tempo que está por vir

No futuro reside o silêncio sem tumulto

Sorrisos leves escondidos

Belezas passageiras

Segundos que não conseguimos contar.

Tinha que nascer

Era quase improvável existir uma beleza assim

Mas ela existia apenas eu não sabia

Com seus cabelos negros

Sua pele de nuvem macia

E um olhar de via láctea 

Exibiu-me um novo mundo

De belos gestos e sutilezas leves

E diante do teu sorriso

Paralisei indeciso

Impreciso

As portas do paraíso

Agora ela não sai da minha mente

Porque sei que é tudo que preciso.

Amaram-se

Fazia tempo que não se viam

E justamente, na madrugada de um domingo inocente

Encontram-se

Ambos com destino e calçada oposta 

Reconheceram-se

Um tímido “oi”, rompeu o silêncio da rua

Aproximaram-se

E de um mero beijo de saudade

Desvirginaram a noite, a madrugada

Trouxeram o dia no sono a dois

Amaram-se.

Ela

Ela uma máquina

Amanhece e anoitece

Faminta

Em sede

Ela é de carne

Mas, sem frescura

Gosta do suor

Gosta de pele

Calor

Que pegue

Que puxe

De beijos profundos

Ela é mulher

Que abraça

Faz caricias 

Que deita no ombro

Olha nos olhos

E sorri...

Linda feito criança.