quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Neguinho - Cotidiano

Liguei para o patrão:
- Finalizei! Posso ir embora daqui mesmo?
- Pode ir sim Thiago! Até amanhã!
- Até!
Lá se vai eu pela Avenida Pedro Paes de Azevedo. Na cabeça os pensamentos e as lembranças do passado.
“Puta que pariu! Essa é a verdadeira máquina do tempo!”
Estava eu cortando caminho pelas quadras para justamente sair em frente a TV Cidade.
Isso aqui conheço bem.
O cheiro, as casas, o trânsito, a noite, o bar e o “Neguinho”.
De volta a avenida, sentado em umas das mesas do bar do “ignorante”, que reclamava se você comprasse uma coca-cola em lata e pedisse dois copos descartáveis:
- Dois copos para uma coca em lata? Coca em lata é só pra uma pessoa!
Insuportável esse rapaz! (risos)
Pois, bem. Eis que o Neguinho me reconhece e sorri sem seus dentes:
- Diga aí meu camarada! (Sorrisão na face)
- Fala Neguinho, beleza? (Sorriso na face)
- Beleza meu brother! (Aperto de mão caloroso)
- Tava sumido... Seu amigo ta aqui.
- Tá mais não pô! Ele já voltou para São Paulo.
- Você falou com ele foi?
- Falei! Assim que cheguei conversei com ele. Ele tinha viajado uma semana antes.
- E você tava aonde?
- Tava morando em Santos, voltei tem um mês.
- Rapaz, seu amigo teve aqui nesse bar, sentou bem ali naquela mesa ali.
- Me chamou pra beber, mas, eu tava sem beber. Sabe como é né! Bebi na semana anterior direto, aí tinha que parar por um tempo.
- Sei como é. Descansar o fígado pra beber mais depois. (Risos)
- É! Se quiser tem aqui ó! (Puxou debaixo da mesa uma garrafa de cerveja de 2 litros)
- Quero não Jow! Fica pra próxima. Agora to indo pra casa, outro dia passo aqui com calma e a gente toma umas brejas.
- Beleza então!
- Falou Neguinho, vou nessa. To longe de casa ainda.
- Falou meu camarada. Apareça mesmo!
- Pode deixar!
Que viagem! Reencontrar o Neguinho foi como voltar para 2007. A Tecla Informática (loja que trabalhava) só tinha vida quando ele colava lá com suas histórias repetidas:
“Rapaz quase que ganho no jogo do bicho hoje!”
“E não ganhou porque Neguinho?”
“Porque deu o número ao contrário! Eu joguei 4532 e deu 2354!”
(Risos)
Todo dia era a mesma conversa. Era hilário! Lembrando que ele só é o Neguinho para os íntimos (íntimos na verdade sou eu e o meu amigo Ivan Costa). Ele gosta de ser chamado de Cabeça.
Então segui meu caminho até o ponto de ônibus, lá na Francisco Porto.
Já no ponto, passa por mim uma mina de Estância (uma das cidades que morei), cujo nome não me recordo. Só recordo de como ela era bossal e arrogante. Mas, confesso que não espera aquilo:
- Olá! (Sorriso e sobrancelhas para cima) Tudo bem?
- Oi! Tudo bem! (cara de surpreso)
E ela seguiu e eu segui.
Uma pessoa que viveu tão perto de mim durante cinco anos, pois, tínhamos um amigo em comum e ela nunca fez questão de se aproximar de ninguém, pois, estava num patamar elevado para nós meros mortais. Depois de alguns anos sem nos vermos, ela me cumprimenta. Será que foi pelo fato de saber que eu estava morando em outro estado e agora sou considerado em outro patamar? Ou será que simplesmente ela mudou de pensamento?
Também não me interessa, prefiro todos os dias cumprimentar o Neguinho que só me conheceu em um ano e fala comigo como se fosse seu amigo de datas. E o melhor:
Nunca me julgou em nada. Me aceitou como sou.

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