segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Um colar para Silvia


E mais uma vez o André notou Silvia silenciosa ao sair do motel “Endless Night”.
Ela não se vestia mais de humor. Não carregava mais a sua fúria quando ia para a cama. A chama havia sumido após cinco anos juntos.
André já sentia sua amada distante há alguns dias. E a distância imposta por ela, o fez afastar-se também.
Chegando em casa Silvia seguiu sem uma palavra para o banheiro.
André dirigiu-se a cozinha e abriu uma latinha de cerveja e disse pra si mesmo:
“Foi à última vez.”
Enquanto ela se banhava, ele terminou a cerveja e entrou no quarto. Abriu o guarda-roupa, pegou um embrulho de presente e sentou-se na cama esperando por Silvia.
Sozinho, André olhou todos os cantos do quarto lembrando daquele casal tão cheio de vida de cinco anos atrás. Tudo era divertido para os dois. Não existia tristeza, nem silêncio entre eles. Eram o casal perfeito. Mas como uma perfeição se apaga assim?
Silvia sai do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça e com o roupão branco que ganhou quando completaram um ano morando juntos.
Ela entrou no quarto sem falar nada e seguiu para o espelho.
Depois de 5 minutos de cremes para a pele mais hidratada e bela que já viu, o André destruiu o silêncio imperador:
- Silvia, senta aqui do meu lado, por favor.
Ela olhou em seus olhos, obedeceu seu pedido e perguntou:
- Aconteceu alguma coisa André?
Ao sentar-se, ele segurou as suas mãos:
- Aconteceu sim. Você mudou e me fez mudar. Não suporto mais essa nossa vida juntos.
Silvia arregalou os olhos surpresa com a afirmação verdadeira do André e meio que sem porque quis entender ou talvez reverter algo sem volta:
- Meu amor! Não vamos falar sobre isso, por favor! Acabamos de voltar do motel, nos divertimos, bebemos, nos amamos e você quer falar de algo que não existe. Ninguém mudou aqui. 
André num suspiro lento, fez questão de fechar de vez aquele caixão onde estava deitado e inerte o amor dos dois:
- Chega Silvia! Cansei de sempre engolir essa sua fantasia de que tudo está maravilhoso. Não está! Onde você viu diversão hoje à noite? Onde você viu amor entre nós hoje? Estamos presos por um fio fino de esperança envelhecida!
Silvia sussurrou quase muda:
- Você não me ama mais?
André sorriu e disse:
- Não tem como não te amar Silvia, mas você sabe que uma relação está morta quando se acabam os sorrisos. E faz tempo que não te vejo feliz em qualquer programa que fazemos. A ausência da tua felicidade me faz triste e me afasta de você. Estou saindo. Vamos viver outras coisas. 
Silvia aos prantos, pois sabia que não havia mais salvação para aquele amor petrificado, perguntou:
- Você vai me abandonar? Não vai dormir ao meu lado hoje?
André entregou o embrulho para ela e respondeu sua pergunta:
- Vou Silvia. Não vamos estender mais isso. Deixe esse amor descansar em paz e que nossas cabeças possam refletir distantes de nós, sem ter a interferência da carência e do costume da convivência. 
Ela abriu o presente e sorriu ao ver que era um colar de ouro com um pingente com a letra “S”:
- Que lindo! Minha inicial.                  
André chorou ao ver novamente Silvia sorrindo e beijou pela última vez os lábios da sua amada dizendo:
- Um romance saudável tem a estridência irresistível e espontânea das gargalhadas. O amor só floresce no sorriso. E esse “S” não é a sua inicial. É para que você jamais esqueça que vivemos em busca da felicidade e sem sorrir, jamais a encontraremos.
  


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